Em 2015, foram detectados, em Pernambuco, os quatro sorotipos da dengue circulando ao mesmo tempo, fato até então inédito. Outros dois agentes infecciosos, o da chikungunya e o da zika, também foram confirmados no Estado. Todos os vírus são transmitidos pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti, que, neste panorama de seca e alterações climáticas, precisa ser efetivamente combatido pelo poder público e por toda a sociedade. Além disso, o Ministério da Saúde confirmou a relação do vírus da zika com o aumento de casos de microcefalia no Brasil.

Para enfrentar essa situação, que vem causando epidemia de dengue, chikungunya e zika, o Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Saúde (SES), lança o Plano de Enfrentamento às Doenças Transmitidas pelo Aedes Aegypti. O evento ocorre no Hotel Canarius, em Gravatá (Rodovia BR 232, Km 87, Brejinho) e contará com a presença do ministro da Saúde, Marcelo Castro; do governador Paulo Câmara; do secretário estadual de Saúde, Iran Costa, e de prefeitos de todo o Estado.

Ao todo, serão investidos R$ 25 milhões nas ações, sendo R$ 5 milhões para o combate ao mosquito e compra de equipamentos (material de campo, bombas costais, EPI), R$ 5 milhões para campanha de mídia e R$ 15 milhões para estruturação de centros regionais de atenção às crianças com microcefalia.

"É importante que a população entenda que dois novos vírus foram introduzidos no país e em Pernambuco, o da chikungunya e da zika. Há pouca informação sobre esses vírus na literatura mundial, sobre o que eles podem causar. Isso torna, de alguma forma, essa situação inusitada e grave. Neste ano, tivemos um aumento nos casos de dengue de mais de 500%, comparando com o ano passado, e estamos enfrentando esse aumento no número de casos de microcefalia. Todo esse panorama exige uma atuação focada de todos os entes públicos, como saúde, saneamento básico, educação, e da população, já que sabemos que cerca de 90% dos focos do mosquito Aedes aegypti são encontradas nas casas e nos seus quintais”, afirma o secretário estadual de Saúde, Iran Costa.

No último domingo (29/11) também foi decretado estado de emergência contra o mosquito. A medida busca agilizar e desburocratizar processos, como o de compra de insumos para lidar com a situação. O secretário ainda lembra das investigações que relacionam Guillain-Barré com o zika vírus.

MICROCEFALIA – Até o momento, Pernambuco notificou 646 casos de microcefalia. Desses, 211 atendem aos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além dos estudos e pesquisas para entender esse quadro, a SES está estruturando a rede para o atendimento das mães e das crianças no Estado. Os centros regionais de atendimento às crianças com microcefalia estão distribuídos nas macrorregionais de Caruaru (UPAEs de Caruaru, Belo Jardim e Garanhuns e os hospitais Mestre Vitalino e Jesus Nazareno), Serra Talhada (UPAEs de Serra Talhada, Arcoverde e Afogados da Ingazeira e no Hospital Prof. Agamenon Magalhães), Petrolina (UPAEs de Petrolina e Salgueiro e Hospital Dom Malan) e do Recife (Imip, Cisam, AACD, UPAE de Limoeiro e os hospitais Agamenon Magalhães, Oswaldo Cruz e Barão de Lucena).

Ao todo, serão investidos R$ 15 milhões para estruturação desses centros, contratação de pessoal e compra de equipamentos.

AÇÃO CONTRA O MOSQUITO

O Plano de Contingência está focado em quatro eixos: vigilância dos casos e controle do vetor; assistência ao paciente; comunicação social, para ampla divulgação sobre as doenças; e gestão integrada do plano, para monitoramento de todas as ações estaduais e municipais.

ASSISTÊNCIA – A rede de serviços de saúde está sendo organizada para garantir acesso de qualidade aos pacientes com dengue, febre do chikungunya e febre zika em todos os níveis de atenção, de maneira a atender a comunidade, seja em período epidêmico ou não. “É fundamental a estruturação da rede de assistência ao paciente suspeito para que haja o atendimento dos doentes em tempo oportuno e de modo a não sobrecarregar o sistema de saúde existente. Além disso, precisamos evitar os óbitos por complicações da dengue e a organização da rede é essencial para isso”, ressalta o secretário

Sentindo algum dos sintomas das doenças, a indicação da SES é procurar imediatamente o posto de saúde ou policlínica mais próximo de casa. Recomenda-se repouso, tomar muito líquido e não ingerir medicamentos com ácido acetilsalicílico (AAS e Aspirina) e anti-inflamatórios não hormonais (como nimesulina). Notando algum dos sinais de alarme, como vômito persistente e dor abdominal intensa, a indicação é ir até uma UPA ou hospital regional.

Os casos que apresentam sinais de choque serão referenciados pelos serviços de saúde para os hospitais Agamenon Magalhães, Miguel Arraes, Dom Helder, Otávio de Freitas, Barão de Lucena, Getúlio Vargas, Mestre Vitalino, das Clínicas, Oswaldo Cruz e Dom Malan; e os Regionais de Palmares, Garanhuns, Ouricuri e Arcoverde.

Os hospitais que atendem a rede SUS e os da rede privada receberão novas capacitações em 2016 para atender os casos suspeitos das arboviroses, alcançando no mínimo 80% de profissionais. Só da rede de alta complexidade serão capacitados 530 e nos postos de saúde, regionais e UPAs, 3 mil profissionais. Na Estratégia de Saúde da Família, a meta é capacitar 80% das mais de 1,8 mil equipes.

VIGILÂNCIA – Entre as atividades executadas pelos municípios para o controle do mosquito Aedes aegypti está a eliminação dos criadouros e a aplicação de inseticida (larvicida) químico para a eliminação das larvas do inseto. O larvicida é utilizado nos depósitos positivos (com a presença de larvas) ou vulneráveis (que permitem a oviposição pela fêmea do mosquito) que não são passíveis de serem eliminados mecanicamente (destruição, vedação ou destinação adequada).

“Neste momento de seca, em várias partes do país, sabemos da necessidade da população de armazenar água, mas precisamos do empenho de todos para que esses recipientes, que são responsáveis por 82% dos criadouros em Pernambuco, sejam tampados ou que se coloquem telas sobre eles. Essa é uma medida simples, viável para todos os públicos e que pode surtir um grande efeito contra o Aedes aegypti”, diz Iran Costa.

Em caso de surto epidêmico, poderá ser feito o bloqueio de transmissão com a aplicação de inseticida por meio da nebulização espacial a frio (tratamento a UBV), utilizando equipamentos portáteis ou pesados em, pelo menos, uma aplicação, iniciando no quarteirão de ocorrência do caso e continuando nos quarteirões adjacentes num raio de 150m. Essa ação é realizada pelo Estado. Só em 2015 foram realizadas essas intervenções nos municípios de Olinda, Recife, Chá de Alegria, Paulista, Camaragibe, Jaboatão, Feira Nova, João Alfredo, Passira, Surubim, Limoeiro, Santa Cruz do Capibaribe, Vertentes, Jataúba, Taquaritinga do Norte, Brejo da Madre de Deus, Toritama, São Caetano, Pesqueira, Iati, Itaíba, Águas Belas, Teresinha, Inajá, Manarí, Pedra, Venturosa, Arcoverde, Custódia, Sertânia, Buique e Tacaratu, Tabira, Iguaraci, e São José do Egito.

Para ajudar os municípios, ainda serão adquiridas 40 mil capas de vedação de depósitos como caixa d’água, baldes e tonéis.

MOBILIZAÇÃO SOCIAL – Para chamar a atenção do público, serão produzidos cartazes e fluxogramas, folhetos, camisas e bonés, além de spot de rádio, outbus, outdoor e ampla divulgação das informações entre os meios de comunicação. Também continua em funcionamento os 12 Comitês Regionais de Mobilização para Enfrentamento da Dengue, da Febre Chikungunya e da Zika, além do comitê central, com reuniões periódicas para avaliar a situação das doenças e os planos de atuação. 

“Vamos convocar todos os nossos parceiros para que possamos realizar diversas ações de mobilização social. Quanto maior o envolvimento dos mais variados setores, maiores as chances de enfrentarmos essas doenças”, afirma o secretário Iran Costa. Entre as atividades previstas, em parceria com os municípios, mutirões de limpeza e atividades nas escolas.

LACEN – O Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-PE) já está organizado para realizar os testes para confirmação de dengue e, desde 2014, de chikungunya. No caso da chikungunya, são dois os testes que podem ser realizados no laboratório, localizado no Recife. Um deles (PCR) consegue confirmar os casos já no início da enfermidade (até o oitavo dia). Além desse, há o exame sorológico para quando o paciente está a partir do 15º dia de sintomas da doença.

No caso da dengue, todas as 12 Regionais de Saúde fazem a sorologia para confirmação da doença. Os exames para confirmação de zika serão realizados pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará.

VÍRUS E DOENÇAS

ZIKA – Doença viral aguda transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e caracterizada pelo aparecimento de manchas avermelhadas pela pele, febre baixa ou inexistente, dores articulares ou musculares, dor de cabeça, coceira. Os sintomas desaparecem entre o 3º e o 7º dia. De acordo com o Ministério da Saúde, na literatura, 80% dos casos das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas.

O vírus Zika foi isolado pela primeira vez em primatas não humanos em Uganda, na floresta de Zika em 1947. Entre 1951 a 2013, evidências sorológicas em humanos foram notificadas em países da África (Uganda, Tanzânia, Egito, República da África Central, Serra Leoa e Gabão), Ásia (Índia, Malásia, Filipinas, Tailândia, Vietnã e Indonésia) e Oceania (Micronésia e Polinésia Francesa). Nas Américas, o Zika Vírus somente foi identificado na Ilha de Páscoa, território do Chile no oceano Pacífico, no início de 2014. No Brasil, a primeira confirmação ocorreu este ano.

CASOS DE ZIKA – Até o momento, 4 casos de zika foram confirmados no Estado. Atualmente, no Brasil, não há um sistema de notificação compulsória da doença. As notificações ocorrem apenas em unidades sentinelas que, no Estado, estão localizadas em Olinda (Hospital Tricentenário), Jaboatão dos Guararapes (Hospital Jaboatão Prazeres) e Recife (Hospital Helena Moura). Nesses locais, são realizadas coletas de material que serão analisadas no Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará.

CHIKUNGUNYA – Doença transmitida por mosquitos do gênero Aedes, sendo Aedes aegypti e Aedes albopictus os principais vetores. É caracterizada por febre alta, dores articulares ou artrite intensa com início agudo, podendo estar associados à cefaléia (dores de cabeça), mialgias (dores musculares) e exantema (manchas avermelhadas na pele). Alguns dos sintomas, como as dores articulares, podem se tornar crônicos, persistindo por até dois anos.

Os primeiros casos de chikungunya ocorreram na Tansânia, leste africano, entre 1952 e 1953, e de lá se espalharam pela África. Na Ásia, os primeiros registros foram entre 2004 e 2005 e no Caribe, 2013. No Brasil, os primeiros casos confirmados foram em 2014. Em Pernambuco, o primeiro caso autóctone foi em 2015.

CASOS DE CHIKUNGUNYA – Até o dia 14/11, foram notificados 1.052 casos suspeitos de chikungunya, sendo 213 confirmados (03 importados, sendo 02 no município de Iguaraci e 01 em Itaíba, todos com infecção no estado da Bahia; e 210 autóctones, sendo 127 na Região Metropolitana do Recife e 83 na região do Agreste). Até agora, 229 casos foram descartados.

Os casos confirmados da doença em 2015 foram em: Camaragibe (1), Jaboatão dos Guararapes (3), Olinda (27), Recife (96), Caruaru (1), Jataúba (6), Águas Belas (12), Garanhuns (2), Iati (24), Itaíba (25), Paranatama (2), Terezinha (2), Arcoverde (1), Inajá (2), Manari (4), Pedra (3), Iguaraci (3).

Em 2014, foram notificados 23 casos de chikungunya, com 19 descartados e 4 confirmações (um de ocorrência em Brejo Santo/CE e outro do município de Feira de Santana/BA, além de dois casos da Colômbia).

DENGUE – Doença infecciosa causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Seus sintomas são: dor de cabeça, nos músculos, juntas e olhos; manchas vermelhas no corpo e febre alta por cerca de uma semana; vômito, diarreia e falta de apetite. Nos casos mais graves, pode ocorrer dor abdominal, tonturas, desmaios; sangramento nas gengivas, nariz e outros locais do corpo; suor frio, fezes escuras e vômito.

CASOS DE DENGUE – Até o dia 14/11, foram notificados 119.646 casos de dengue (42.781 confirmados), distribuídos em 185 municípios. Isso representa um aumento de 575,89% em relação ao mesmo período de 2014, quando foram notificados 17.702 casos suspeitos, confirmando 6.573 desses.

Os municípios com o maior número de casos notificados são: Recife (25.418), Camaragibe (8.405), Jaboatão dos Guararapes (7.067) e Caruaru (4.023). 

Agravamento: Até o momento, foram notificados 144 casos de dengue com agravamento, com 116 confirmações. No mesmo período de 2014 foram 98 confirmações.

Óbitos: Foram notificados 82 óbitos, com 22 confirmações, 10 descartados e os demais em investigação. No mesmo período de 2014 foram 61 óbitos suspeitos, sendo 45 confirmados.

LIRAa: A análise do Índice de Infestação Predial (IIP) do 6º ciclo do LIRAa (Levantamento de índice Rápido do Aedes aegypti), que indica o risco de transmissão da dengue em uma população, demonstra situação de risco de surto em 52 municípios, situação de alerta em 60 municípios e satisfatório em 45 municípios, porém 28 municípios (Barreiros, Chã de Alegria, Chã Grande, Custódia, Fernando de Noronha*, Gravatá, Inajá, Itaíba, Itapissuma, Jaboatão dos Guararapes, Jatobá, Lagoa dos Gatos, Manari, Maraial, Paulista, Poção, Pombos, Quipapá, Ribeirão, Santa Maria do Cambucá, São Benedito do Sul, Sertânia, Tacaratu, Tamadaré, Tracunhaém, Tupanatinga, Venturosa e Vitória de Santo Antão) não informaram resultados do IIP referente ao 6º LIRAa 2015.

Cuidados importantes para eliminar os focos dos mosquitos:

- Mantenha bem tampados caixas d’água, jarras, cisternas, poços ou qualquer outro reservatório de água.
- Mantenha as lixeiras tampadas e secas. Nunca jogue lixo em terrenos baldios.
-  Coloque no lixo todo objeto que possa acumular água. O lixo deve ser colocado em sacos plásticos bem fechados.
- Lave os bebedouros de animais com uma bucha pelo menos uma vez por semana e troque a água todos os dias.
- Cubra e guarde os pneus em locais secos, protegidos das chuvas.
- Guarde as garrafas secas de cabeça para baixo e não deixe no quintal objetos que acumulem água.
- Encha os pratinhos de plantas com areia.
- Retire a água acumulada sobre a laje.
- Mantenha as calhas d’água limpas.